O estudo da História como ferramenta para a compreensão do mundo e para a formação do cidadão crítico
O estudo da História nas escolas, por muito tempo esteve atrelado a simplesmente ler o livro didático, decorar datas e responder questionários infindáveis. No entanto, esse procedimento não é nada cativante, nem um pouco interessante para o aluno e até mesmo para o professor. Isso significa que o processo de ensino-aprendizagem da disciplina de História vem sofrendo modificações na tentativa de tornar essa matéria mais atraente.
O fato de a História se preocupar com o passado e possuir um caráter documental não significa que ela é uma ciência pronta, acabada. Muito pelo contrário, a História, como sabemos, é dinâmica, viva, está sempre em construção. Não há como mudar o passado, mas há como descobrir coisas referentes ao passado que podem transformar ou modificar as “verdades” do presente.
É importante nos identificarmos também não apenas como agentes passivos da História, não como meros expectadores e estudiosos dessa ciência. Nosso papel é muito maior do que esse. Nós somos construtores da História, modificadores da sociedade, inventores da realidade, enfim, precisamos nos entender como sujeitos históricos. Nossas ações e, inclusive, nossas omissões têm o poder de construir ou destruir o mundo, mas de uma maneira ou de outra, a História estará sendo feita.
Portanto, como podemos notar, o estudo histórico nos proporciona o entendimento da nossa realidade e da importância de cada um na construção da História, amplia nossa visão de mundo e nos revela nossa própria identidade. Através dela podemos arquitetar o futuro, para que nele não se cometam os mesmo erros ou equívocos do passado.
“A memória da humanidade é a História” (RAMOS. 2008, p. 5). Como todos nós fazemos parte da humanidade, inevitavelmente a História tem a ver com cada um de nós e, de alguma maneira ela nos atinge.
A História não é uma ciência isolada. Ela abrange, ao mesmo tempo em que é tocada, outras ciências, como por exemplo, a Economia (formas de subsistência de cada sociedade; relação comercial entre um povo e outro); a Geografia (palco de todos os acontecimentos históricos); a Antropologia (aspectos gerais de cada povo: religião, arte, trabalho...); a Sociologia (o ser humano vive agrupado, em sociedade); a Filosofia (visões de mundo e questionamentos acerca dos fatos de acordo com cada grupo e época); a Arqueologia (descoberta de materiais que revelam o estilo de vida de um povo, por exemplo); entre outras.
A ciência História também tem sua história. A maneira como a vemos e a estudamos hoje é diferente de como ela era vista e analisada na Idade Medieval, por exemplo. No período medieval a História era sustentada pela religiosidade e era dirigida apenas à elite. Mas a influência religiosa no que tange o ensinamento histórico ultrapassa a Idade Média e era percebida até por volta do século XIX. História e Teologia se mesclavam nas aulas até nesse período. Na Idade Moderna a História tinha a função de apresentar aos jovens da elite o passado e o poderio de sua nação. No Brasil não foi muito diferente. Em 1837, a disciplina História que antes era facultativa nas escolas tornou-se obrigatória e destinava-se a formação de proprietários e escravistas.
O modelo eurocêntrico tem até hoje forte influência no contexto histórico, tanto é que apesar de muitos historiadores e professores se contraporem a essa divisão – História Antiga, Média, Moderna e Contemporânea – ela é comumente usada nas salas de aula. Neste contexto, a História do Brasil não ganhava muito destaque, mas sofria alterações à medida que se influenciava mais pelas características europeias. Aos poucos, a História foi enaltecendo os atos daqueles que ajudavam a construir a nação e deixando de lado o aspecto religioso. Já no período republicano brasileiro, o ensino passa a ter a função de despertar no cidadão o seu amor à pátria e, para isso, instaura-se na década de 1920 a disciplina de "Instrução Moral e Cívica". No campo histórico a disciplina tinha como prioridade relatar fatos políticos, mais tarde passou a mencionar a economia. Houve influência dos Estados Unidos também. Os estadunidenses influenciaram no sentido de educar tecnicamente o cidadão para que ele se tornasse mais produtivo e capacitado na indústria. Durante a fase da ditadura militar a História é voltada ao estudo da biografia dos grandes heróis nacionais e dos acontecimentos políticos de maior destaque. Questionamentos e opiniões eram repudiados, ninguém podia se manifestar contra o governo e a política. Isso significa que o ensino da História e até da Geografia passou a se fundamentar em leitura, memorização e questionários, o que não estimulava o aluno a pensar e a se encontrar como sujeito participante da História. Apenas por volta da década de 80 é que o ensino da História é repensado e remodelado. A História Geral e do Brasil passam a ser estudadas de forma intercalada e cronológica, aberta às críticas e à participação dos estudantes tornando-a dinâmica e interessante.
A História é uma ciência que possui, assim como outras ciências, algumas correntes ou teorias. Uma dessas correntes, muito recente por sinal, é a Outra História a qual trata da História feita pelo povo e não para a glorificação da classe dominante, dos governantes. Outra corrente é o Marxismo que se fundamenta na evolução do processo de produção, ou seja, na maneira como os homens produzem e usam os instrumentos para criar os seus meios de subsistência. Dentro dessa teoria, os indivíduos que formam a classe dominante são os que determinam um período histórico. Partindo para o Positivismo, essa corrente trabalha com a ideia de que os acontecimentos históricos podem ser previstos, pois os fatos se encadeiam mecanicamente (linearmente). Hoje em dia é comum conceber a História Integrada, cujo a qual apresenta as relações variadas entre os povos de diferentes sociedades não isoladamente, mas sim com influências e interferências mútuas no tempo e no espaço.
O que importa mesmo é conscientizar o aluno da importância do estudo histórico. No entanto, essa tarefa tem sido dificultosa para os professores. Afinal, por que um adolescente do terceiro milênio deve aprender História? Não é difícil responder a essa questão diante de tantos argumentos que aqui já foram expostos. Sabemos que o desgosto por essa matéria vem da seguinte questão: os alunos, geralmente, não têm a consciência da relevância de se estudar essa disciplina. Por isso, faz-se necessário, primeiramente, conscientizá-los de que são personagens ativos da história, que são modificadores e construtores da sociedade e que suas escolhas e ações impactam o ambiente em que estão inseridos e vão acarretar em alguma consequência. Em segundo lugar é importante despertar neles o significado do estudo histórico e mostrar que, embora se trate de assuntos antigos, o aprendizado através desse estudo tem muito a ver com a atualidade e até mesmo com o futuro. O professor deve ser apenas mediador entre o aluno e suas descobertas e fazer com que ele descubra que o conhecimento histórico não se dá apenas na sala de aula, mas em todas as relações com os outros, com o meio e através das mídias, ou seja, ele acontece informalmente e a todo e qualquer momento.
Uma ferramenta muito utilizada pelos professores é o livro didático. Ele auxilia e até facilita a relação de ensino-aprendizagem entre professores e alunos. No entanto, nem todos os livros são confiáveis e completos. No caso da disciplina de História, o livro didático deixa muito a desejar, salvo alguns casos. A História é uma matéria que exige opinião própria, crítica aos fatos, desenvolvimento do pensamento, compreensão da realidade e, muitas vezes os livros não propõem nenhuma dessas situações. Eles transmitem aos alunos e até mesmo a alguns professores a sensação de que já estão acabados, de que é aquilo e pronto, quando na realidade deveriam estimular o pensamento, a busca de novas propostas, o incentivo à crítica, ao debate, fazendo com que dessa maneira o aluno, juntamente com o professor, se sintam e se tornem sujeitos da história. Outro método que aborta o senso crítico dos educandos são as aulas expositivas exageradas que não permitem opiniões e abertura a debates. Aulas com assuntos ou métodos distantes da realidade do aluno também são desestimulantes, o aluno precisa sentir a História, entrar nela, ser atuante.
A inclusão de novas linguagens e tecnologias precisa fazer parte das aulas de História. Ferramentas audiovisuais prendem a atenção dos alunos quando aplicadas no momento oportuno e de forma correta. Assim como dinâmicas e brincadeiras entrosam os alunos com os assuntos estudados. Assuntos que poderão ser tratados também de maneira interdisciplinar. Quando focamos um tema para ser trabalhado em várias disciplinas, os alunos descobrem diversos pontos de vista acerca de diferentes aspectos sobre ele, tornando essa interdisciplinaridade numa gostosa aventura de aprendizagem. Uma viagem de estudo também pode ser uma maneira divertida de aprender muito mais do que talvez se aprenderia na sala de aula.
Portanto, o papel da História enquanto disciplina escolar é despertar nos alunos o sentido crítico dos fatos, fazê-los organizar as informações, classificá-las conforme sua importância, analisar e interpretar os acontecimentos e extrair alguma lição deles. As aulas de História não são para decorar nomes e datas, e sim para estimular os alunos a refletirem sobre o assunto em questão, debaterem, trocarem ideias, experiências e conhecimentos; sugar a criatividade deles através de dinâmicas e atividades práticas que proporcionem um contato direto com aquilo que estão estudando e trazer para a realidade em que vivem. “O aluno precisa sentir que a aula de História é um espaço onde ele pode falar, relatar, questionar, refletir sobre os fatos, relacionando-os com a realidade que os cerca” (RAMOS. 2008, p. 36).
Nesse sentido, estudar História é viver um paradoxo: ou viaja-se no tempo em direção ao passado ou traz-se o passado para o presente. Precisamos estar conectados com a informação, absorver o conhecimento e, com base nisso, construir um futuro melhor. Afinal, a todo instante cada um de nós, querendo ou não, conscientes ou não disto, construimos a História da Humanidade.
Josimar Tais
REFERÊNCIA: RAMOS, Paulo. Fundamentos e Metodologias do Ensino de História. Módulo de Ensino da Assessoria Pedagógica Ramos: Massaranduba, 2008.
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Pessoal, leiam é interessante e enriquecedor!!!bjos
ResponderExcluirFico honrado com essa demonstração de reconhecimento e, mais do que isso, feliz por ver a História sendo disseminada por meio da internet através do seu blog. Continue com esse trabalho e sucesso na sua carreira. Você e os seus visitantes e seguidores estão convidados a seguirem meu blog também. Bjo.
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